Sobre edição de textos científicos
Dicas e discussões sobre a edição de textos da área científica

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A redação de qualquer artigo científico começa por uma boa pesquisa bibliográfica, seja para texto de revisão ou relatório de pesquisa original. Atualmente, há muitas bases de dados eletrônicas de indexação (catalogação) de resumos de trabalhos científicos publicados no mundo todo. As mais conhecidas pelo pessoal da área saúde são o Medline, o Lilacs, o SciELO (no Brasil), mas há ainda várias outras de importância na medicina, como a Scopus ou a Web of Science por exemplo. Todas elas dão acesso aos resumos (abstracts) dos trabalhos. (No final deste texto, listamos algumas, com seus endereços eletrônicos, para fácil coleta de resumos de trabalhos científicos.)

Mas, dentre todos os resumos recuperados numa dada pesquisa, como ter acesso ao texto completo daqueles que realmente interessam? Existem alguns caminhos. O mais rápido, porém mais caro, é solicitar a compra do artigo avulso diretamente à editora da revista que o publicou. A grande maioria das revistas indexadas hoje e publicadas por grandes editoras (como Elsevier, Blackwell e outras) vende os textos individualmente (a The Knee, por exemplo, oferece um artigo por U$ 31,50). Outras comercializam apenas assinaturas individualmente (a da Arthroscopy, por exemplo, custa U$ 627). Para quem está em programa de mestrado ou doutorado ou mesmo realizando revisões sistemáticas, os valores podem ser proibitivos. Esperar seis meses a um ano para ter acesso ao documento gratuitamente (algumas editoras liberam o uso algum tempo após a publicação) também pode atrapalhar bastante as pesquisas.

Porém há a possibilidade de se obter gratuitamente, e na data da publicação, os textos completos dos artigos de diversos periódicos. A primeira porta de acesso aos chamados ” free full texts ” são justamente as bases de dados que contemplam as revistas de acesso aberto (” open access “), que têm o fornecimento de textos gratuitamente como política editorial. Abaixo está uma listagem de algumas delas, como o Directory of Open Access Journals ou o mais conhecido, latinoamericano, SciELO. Essas bases de dados têm seu conteúdo inteiramente gratuito, por princípio. Pesquisar dentro delas significa ter acesso a todos os artigos dos periódicos listados.

Além das bases já abertas a priori , há outros portais (como o conhecidíssimo Pubmed, que dá acesso ao Medline e a outras bases menores) que mostram quais artigos estão disponíveis gratuitamente ( free full text ) e quais estão sujeitos a assinatura ou compra. Pesquisar nessas bases mais amplas permite recuperar mais resumos. Como nem todos estão disponíveis gratuitamente, uma solução possível é consultar as bibliotecas locais das universidades (como a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo) para verificar se os periódicos estão assinados por elas e disponíveis para consulta, no formato impresso ou eletrônico. No entanto, isso exige visita pessoal à biblioteca.

Uma segunda opção, que dispensa a visita à biblioteca local, é a Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde), que mantém há vários anos um serviço de fotocópias de artigos científicos disponível para brasileiros. Funciona assim: se o texto desejado foi publicado em periódico que consta do acervo das bibliotecas da rede, o sistema SCAD (Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos) providencia uma cópia do texto (como xerox impresso ou digitalização da imagem da página, em formato pdf) e o envia ao usuário individual, por correio, fax ou e-mail. Além de uma taxa de inscrição de R$ 25,00, inicial, são cobrados de R$ 8,00 a R$ 24,00 por texto de até 20 páginas, dependendo da urgência do pedido e da forma de envio. A cobrança é feita por boleto bancário, mensalmente.

O terceiro caminho, bem mais prático, é usar o Portal Capes de periódicos (chamado “.periódicos. Capes”), que é uma base de acesso a textos completos financiada por assinaturas das instituições de ensino, entre elas a Santa Casa. Na próxima Dica do Centro de Estudos, vamos mostrar como utilizar esse importante e prático canal de coleta de artigos, a que todos os professores, alunos, residentes, estagiários e funcionários do Pavilhão Fernandinho Simonsen podem ter acesso por meio de computadores cadastrados. Aguarde a divulgação do próximo texto!

 

Bases de dados para pesquisa de resumos:

Bireme : http://www.bireme.br/php/index.php

Permite a busca em diversas bases de dados ao mesmo tempo. Por exemplo: com uma mesma palavra-chave, é possível encontrar resumos nas bases Medline, Lilacs, SciELO, Biblioteca Cochrane e outras. Recupera resumos, alguns dos quais com acesso aberto ao texto completo.

Pubmed : http://www.pubmed.com

Permite acesso à base de dados Medline e a artigos adicionais, publicados pela base PubMedCentral (a maior parte desta com acesso a artigos completos gratuitos) e a artigos cuja publicação precede a indexação do periódico no Medline, ou seja, trata-se de uma via de acesso a uma base mais ampla que a do Medline em si, incluindo bancos taxonômicos e genéticos.

 

Bases de acesso a artigos completos:

Directory of Open Access Journals: http://www.doaj.org/doaj?func=subject&cpid=20

A base contém mais de 3.800 periódicos que fornecem acesso gratuito a artigos, com o objetivo de aumentar a visibilidade da pesquisa científica, e cresce continuamente. O Brasil é o segundo maior usuário do mundo e o segundo que mais adicionou periódicos à base, perdendo apenas para os Estados Unidos. Na área de ciências da saúde, são 466 revistas, sendo 283 de medicina geral e 119 de saúde pública. Há 12 periódicos abertos de medicina esportiva e 58 de cirurgia, incluindo cirurgia ortopédica.

BioMed Central: http://www.biomedcentral.com/info/libraries/oajournals

A base se liga a periódicos com acesso aberto aos artigos. Atualmente, oferece quatro periódicos de diagnóstico por imagem, 10 sobre desordens musculoesqueléticas, mais de 20 de saúde pública, 12 de cirurgia, incluindo alguns de ortopedia.

Free Medical Journals: http://freemedicaljournals.com/

Esta base dá acesso a 430 periódicos somente da área médica, com oito de ortopedia incluídos. Também promete acesso a livros, uns poucos de ortopedia.

SciELO : http://www.scielo.br

A mais conhecida base de open access journals pelos brasileiros é apoiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e mantido pela Bireme (Centro Latinoamericano e Caribenho de Informações em Ciências da Saúde). Dá acesso a mais de 600 periódicos, sendo 221 da área de saúde. Tem também um sistema interno de cálculo de fator de impacto dos artigos e dos periódicos.

 

Fotocópias de artigos

SCAD: http://scad.bvs.br/php/index.php

O Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos envia para o usuário por e-mail, fax ou correio comum fotocópias ou digitalizações de artigos científicos presentes nos acervos das bibliotecas da rede Bireme. Há uma tabela de preços disponível no site e a cobrança é feita por boleto. A busca dos artigos deve ser feita pelo sistema da Bireme (www.bireme.br), e ao lado de cada resumo um link para o SCAD facilita o pedido.

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Na última Dica do Centro de Estudos, expusemos quais são os critérios objetivos que definem autoria de textos científicos atualmente. Como vimos, o autor de um trabalho científico precisa ter feito contribuições significativas para o design ou concepção inicial da pesquisa ou coleta de dados ou análise e interpretação dos resultados; precisa ter redigido ou revisado o manuscrito e precisa ter dado aprovação final da versão a ser publicada. Mas como se enquadram os profissionais e as instituições que fizeram contribuições essenciais para o trabalho e que não são autores?

Em muitas universidades e centros de pesquisa, as pesquisas não podem ser realizadas sem financiamento, sem orientações técnicas específicas ou sem pacientes, por exemplo. Então como fica aquele médico que operou os doentes com a nova técnica cirúrgica que está sendo estudada? E o estatístico, que calculou o tamanho da amostra e “rodou” a análise? E aquela empresa que forneceu o equipamento de tomografia para exame dos pacientes, ou a outra que forneceu as próteses? A resposta é: apesar de terem contribuído significativamente para a realização do trabalho (ao ponto de que o estudo não se realizaria sem eles), essas pessoas e instituições não se responsabilizam pelos resultados, pela análise, pela versão final do texto, e geralmente não participaram da concepção do estudo. Portanto, não são autoras. Devem, sim, receber agradecimentos.

Agradecimentos são expostos como um ou dois parágrafos curtos, nos quais os autores detalham as pessoas e instituições que auxiliaram na realização do estudo. Geralmente, esses ” acknowledgements ” figuram na primeira página do artigo, algumas vezes no final, mas com destaque. Não fazem parte do resumo do trabalho (abstract), mas ficam evidentes para o leitor do texto completo. Exemplos:

“Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo financiamento do trabalho por meio da bolsa de estudos número XXXXX.”

“Os autores agradecem à Bayer pelo fornecimento dos medicamentos testados.”

“Agradecemos à General Eletric pelo fornecimento do equipamento de imagem utilizado nos exames dos pacientes”.

“Os autores reconhecem e agradecem imensamente a revisão crítica do texto pelo professor Fulano de Tal.”

“Os autores agradecem a Beltrano pela orientação na análise dos marcadores genéticos e ao Laboratório X pela cessão dos equipamentos de biologia molecular utilizados no trabalho”.

Agradecimentos são uma maneira ética e bem aceita de reconhecer contribuições sem violar os critérios já bem estabelecidos de autoria de trabalhos científicos. Ninguém precisa ficar de fora. Basta apenas que a participação de cada um seja exposta da maneira considerada correta pela maioria das revistas biomédicas.

 

Para ler mais:

http://www.icmje.org

http://publicationethics.org/code-conduct

http://www3.aaos.org/member/profcomp/research.pdf

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Como comentamos na última Dica do Centro de Estudos, muita dúvida tem surgido a respeito de quem pode e quem não pode (ou não deve) figurar num artigo científico como autor. Os critérios que definem autoria atualmente são objetivos e foram criados pelas revistas científicas internacionais, muitas delas reunidas em torno do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE). Eles servem para colocar limites na definição da autoria de pesquisas científicas, de maneira que os autores das publicações possam e devam se responsabilizar por elas.

Responsabilidade é, realmente, a principal chave da compreensão dos critérios de autoria (“Authorship criteria”) de manuscritos da área biomédica: a primeira exigência para que um profissional possa assinar um artigo é a resposta à pergunta: “você se responsabiliza pelos métodos e pelos resultados do trabalho que está apresentando?” Ou seja, aquele proponente a autor estaria disposto a responder legalmente por qualquer questionamento ético, técnico ou científico a respeito daquele trabalho? Se a resposta for “não” ou “não sei”, provavelmente é porque o autor não participou do planejamento da pesquisa, da escolha dos métodos adequados para a coleta de dados, não se envolveu com a análise das informações colhidas e sua interpretação e, portanto, não pode mesmo estar seguro de que teve tudo sob controle, tudo debaixo de seu olhar vigilante, tudo de acordo com o que considera adequado.

As orientações do ICMJE estão alinhadas com as do Comitê de Ética em Publicações (COPE) aos quais a maioria das grandes revistas é afiliada atualmente. Além disso, também a Associação Americana de Cirurgiões Ortopedistas (AAOS) estabelece padrões obrigatórios a respeito da responsabilidade sobre pesquisas científicas. O princípio comum a todas elas é de que alguém só pode dizer-se autor de um trabalho para o qual tenha feito “significativas contribuições”. Quais contribuições são as mínimas necessárias?

Autores de trabalhos científicos publicados em revisas biomédicas precisam ter participado de três atividades (e obrigatoriamente todas as três) para terem direito a assinar o texto:

1) design ou concepção inicial da pesquisa ou coleta de dados ou análise e interpretação dos resultados;

2) redação do manuscrito ou sua revisão crítica

3) aprovação final da versão a ser publicada.

Isso quer dizer que todo autor tem de necessariamente ter revisto a versão final e dado sua aprovação (o que representa uma maneira de se responsabilizar pela pesquisa). Todo autor precisa ter ajudado a escrever ou revisado criticamente o trabalho (melhor se for as duas coisas). E todo autor tem que ter participado ou do desenho (planejamento) do estudo, ou da coleta de dados ou da análise dos dados (estatística ou interpretativa).

Exemplo: se um pesquisador planejou o trabalho e teve colaboração de outros para coletar os dados, depois precisa redigir ou revisar o texto e dar aprovação final. Se outro pesquisador trabalhou apenas na coleta de dados de um trabalho, sem ter participado da sua concepção, mas redigiu e revisou a versão final, também pode ser considerado autor. Mas se apenas ajudou a planejar e depois nunca mais pôs olhos no texto a ser publicado, não pode se responsabilizar por ele. Portanto, não pode assinar. Se não planejou, não trabalhou na aquisição dos dados nem na interpretação deles (seu significado clínico, por exemplo), não pode ser autor, mesmo que tenha revisado a versão final de um texto que outros produziram.

Médicos que forneceram dados de pacientes com determinadas afecções para estudo, cirurgiões que operaram os sujeitos de uma pesquisa, técnicos que ofereceram orientações para análises (por exemplo, moleculares, estatísticas, linguísticas) não são autores (a menos que também se enquadrem nos critérios de autoria acima). Porém, situações em que a autoria não se justifica não precisam ser necessariamente casos de falta de reconhecimento: pessoas ou instituições que colaboraram indiretamente ou com apenas parte da pesquisa podem e devem receber agradecimentos, tema de nossa próxima Dica do Centro de Estudos.

 

Para ler mais:

http://www.icmje.org

http://publicationethics.org/code-conduct

http://www3.aaos.org/member/profcomp/research.pdf

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Muita dúvida tem surgido no Pavilhão Fernandinho Simonsen a respeito de quem pode e quem não pode assinar um artigo científico como autor. Quando um texto é preparado para publicação, quais critérios podemos utilizar para determinar quem participou da pesquisa e de que maneira, para estabelecer a lista de co-autores? Existem critérios objetivos?

Sim, existem. E eles foram criados internacionalmente pelas revistas científicas, muitas delas reunidas em torno do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE). O Comitê criou e estabeleceu esses critérios (“Authorship criteria”) porque, nos últimos anos, docentes afiliados às universidades têm sofrido grande pressão para dedicar-se não apenas ao ensino (na graduação e na pós-graduação), mas também à pesquisa, e a métrica, nesse contexto, é o número de publicações: o desempenho profissional de um professor ou pesquisador é, na maior parte, medido pela sua capacidade de publicar. Um dos resultados desse movimento é a maior geração de conhecimento, o que é benéfico para o mundo todo. Mas, por outro lado, outra conseqüência é que têm surgido certos desvios da definição de autor. Daí a reação das revistas.

É bem registrado em diversos editoriais já publicados que muita gente que assina artigos em revistas biomédicas sequer tinha conhecimento do andamento das pesquisas em seus serviços: assinaram por conveniência, por gentileza do autor principal ou por praxe nas universidades. Bem… a “praxe”, atualmente, tende a mudar, porque os melhores periódicos internacionais já definiram o que é um autor. Além disso, muitos (inclusive da área de Ortopedia) estão exigindo descrições formais e assinadas por todos os autores de quais foram suas contribuições ou participação na pesquisa que gerou o manuscrito. Os autores relatam ali se coletaram dados, se atuaram na concepção do projeto, se revisaram o texto, tudo. Esses documentos são arquivados pelas editoras e têm valor legal para o caso de a autoria ser questionada em algum momento.

Nos próximos textos das Dicas do Centro de Estudos, vamos explicar detalhadamente, afinal, quais são os critérios já estabelecidos pelo ICMJE e o que tem sido exigido pelas principais revistas internacionais em Ortopedia, como a Arthroscopy, a Clinical Orthopaedics and Related Research, a Knee, a Spine e várias outras, mesmo as que não são afiliadas ao ICMJE. Importante guardar para o momento é que, independentemente de qualquer discussão ética que se possa fazer a respeito (e podem-se fazer muitas, intermináveis), os critérios atuais existem, sim, e são objetivos (não são baseados em considerações ou “achismos”). São, de fato, exigência dos periódicos onde desejamos publicar.

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Periódicos que adotam as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas exigem o registro prévio de ensaios clínicos “randomizados” para aceitarem os artigos para publicação. Qualquer projeto de pesquisa que prospectivamente designa humanos para intervenção e comparação entre grupos, para estudar a relação de causa e efeito entre essa intervenção e um desfecho clínico, é considerado um estudo clínico “randomizado” ( clinical trial ) e requer registro, obrigatoriamente.

Onde registrar? A Associação Mundial de Editores Médicos (WAME) comenta: muitas questões práticas precisarão ser resolvidas antes que o registro universal seja uma realidade. Um único registro, mundial, seria ideal, mas registros múltiplos são mais práticos no curto prazo, pois os estudos clínicos são conduzidos em muitas regiões do mundo e muitas áreas de pesquisa, e atualmente não há um organismo internacional que cuide da pesquisa em âmbito mundial. Portanto, várias bases de dados internacionais estão disponíveis para servir aos pesquisadores. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mantém uma rede de Registros de Clinical Trials , que pode ser acessada a partir de: http://www.who.int/ictrp/network/en/.

Cada base de registro tem suas próprias regras. Embora todas busquem a uniformização das informações solicitadas aos autores para registro, ainda assim elas são diferentes entre si. Existem bases de dados específicas para certas áreas da pesquisa, como oftalmologia ou leucemia. Outras atendem apenas a determinados países, como a base indiana e a australiana. Cada pesquisa precisa ser registrada uma única vez, em qualquer das bases de dados. A lista de requisitos mínimos para o registro dos estudos, presentes em todas as bases, pode ser obtida em: http://www.who.int/ictrp/network/trds/en/index.html.

 

Para pesquisadores brasileiros especialmente, interessam:

– ISRCTN : esta base gera um número único, chamado de International Standard Randomised Controlled Trial Number Register. Está aberta a pesquisadores de todos os países e permite o registro de estudos clínicos que já se iniciaram: http://www.controlled-trials.com/isrctn/submission/;

– ClinicalTrials.gov : mantida pelo National Health Institutes dos Estados Unidos, é gratuito e aceita registros de mais de 150 países: http://prsinfo.clinicaltrials.gov/

Ensaios clínicos envolvendo novos medicamentos têm obrigatoriamente de estar registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 

Para ler mais:

http://www.who.int/ictrp/en/

http://www.sbppc.org.br/legislacao_nacional.php

http://www.sbppc.org.br/legis_br_219.php

http://www.icmje.org/#clin_trials

http://www.icmje.org/faq.pdf

http://www.wame.org/resources/policies#trialreg

 

 

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Desde 2007, as revistas científicas que adotam as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas (ICMJE) só publicam estudos clínicos que tenham sido registrados previamente. Mas quais estudos precisam e quais não precisam ser registrados?

As pesquisas que precisam ser registradas previamente são os estudos clínicos e “randomizados”, ou seja, os ” clinical trials “. Trabalhos com animais, estudos de caso ou de série de casos e estudos retrospectivos, por exemplo, não necessitam de registro prévio.

O ICMJE adota a definição de ” clinical trial ” da Organização Mundial de Saúde (OMS). Estudo clínico “randomizado” é:

“qualquer estudo que designa prospectivamente participantes humanos ou grupos de humanos a uma ou mais de uma intervenção em saúde para avaliar os efeitos na evolução clínica”.

Estão entre essas intervenções os procedimentos aplicados para modificar um desfecho clínico, por exemplo: medicamentos, cirurgias, equipamentos, tratamentos comportamentais, dietas e também modificações no processo de atendimento em saúde (condutas). A definição da evolução clínica está baseada em qualquer mensuração ou avaliação realizada nos pacientes ou participantes, incluindo medidas de farmacocinética ou registro de efeitos adversos.

Estudos observacionais, em que tratar ou não o paciente não esteja a critério do pesquisador, não necessitam de registro. Assim, não precisam ser registrados: as descrições de séries de casos, os estudos de coorte, os transversais ou os de caso-controle retrospectivos, em que o pesquisador não designou ou não sorteou os participantes que receberiam a intervenção e os que não a receberiam. Sem aleatorização, o trabalho não é considerado um ” randomized clinical trial “, e portanto não requer registro. Sem intervenção capaz de modificar o estado de saúde do participante, não se trata de estudo clínico, portanto não é necessário registro.   

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O Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas (ICMJE) estabelece que todo estudo clínico “randomizado” tem de ser registrado em bases de dados públicas, disponíveis na internet, antes de ser submetido para publicação nos periódicos científicos. Ou seja, desde 2007, as revistas que adotam as normas do Comitê só aceitam publicar estudos clínicos que tenham sido registrados previamente.

Essa decisão está em consonância com a concepção da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o registro de todos os ” clinical trials ” que estão sendo realizados no mundo é uma responsabilidade moral, ética e científica, porque é preciso assegurar que as decisões tomadas nos países a respeito de cuidados em saúde e saúde pública sejam baseadas em todas as evidências científicas disponíveis, e não apenas nos resultados considerados “positivos” pelos pesquisadores e pela indústria. A população se beneficia da realização de uma pesquisa apenas se o estudo for inteiramente publicado, incluindo os resultados negativos, e o registro dos ensaios clínicos impede que os resultados desfavoráveis, por exemplo para a indústria, sejam ocultos.

O registro do trabalho em bases de dados eletrônicas públicas também é importante para que, ao iniciar um estudo, o pesquisador possa ter conhecimento de outras pesquisas que estejam em andamento em outros centros. Assim, pode evitar desperdício de tempo e recursos, humanos e materiais, que ocorreria com a duplicidade das pesquisas, e pode também favorecer o início de colaborações entre centros de pesquisa, facilitando o recrutamento de sujeitos. Se por um lado o registro pode evitar duplicidade, por outro o pesquisador pode, também, preencher lacunas de conhecimento que outros estudos clínicos não abordaram e evitar repetir problemas metodológicos.

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Cada vez mais as revistas científicas internacionais solicitam que se declare nos resumos dos trabalhos (abstracts) qual é o ” study design “. Estes são os desenhos de estudo mais comuns. Muito provavelmente o seu estudo se encaixa numa destas opções! Antes de iniciar a sua redação, pense já na classificação de seu estudo e indique-a, mesmo que a revista não peça. Isso facilita o trabalho de editores e revisores, e pode apressar a avaliação e a publicação.

Patricia Logullo

 

Estudo descritivo em laboratório (descriptive laboratory study) :  Estudo in vivo ou in vitro que descreve características como anatomia, fisiologia ou cinesiologia de um grupo de sujeitos (humanos, animais ou fragmentos de cadáveres) em situação controlada laboratorialmente.

Estudo controlado em laboratório (controlled laboratory study) :  Investigação in vitro ou in vivo , realizado em laboratório, em que um grupo (humano ou animal) recebendo um tratamento experimental é comparado com um ou mais grupos recebendo nenhum tratamento, placebo ou um tratamento alternativo.

Relato de caso (case report) :  Descreve o tratamento de um paciente, ou de um pequeno número de pacientes (dois, três, por exemplo, em tamanho de amostra que não caracterize “série de casos”). Enfatiza os aspectos clínicos que sejam relevantes, impressionantes, ou que marquem a raridade do evento. Expõe a razão pela qual é importante que se tome conhecimento de caso(s) assim.  

Série de casos (case series) : Este tipo de estudo descreve as características de um grupo de pacientes com uma doença (ou deformidade, ou síndrome, qualquer condição clínica particular) que foram submetidos a um procedimento qualquer (uma cirurgia, por exemplo), porém sem comparações com outros grupos de pacientes (controles). É simplesmente a descrição do grupo de pacientes. O desenho pode ser prospectivo ou retrospectivo. No desenho prospectivo, a partir de um dado momento, o pesquisador decide estudar todos os pacientes (por exemplo, com escoliose), que forem recebidos em um centro (ou vários centros, por exemplo hospital mais consultório) e tratados com a técnica cirúrgica x quando ao desfecho y (por exemplo, correção da angulação da coluna), sendo que o método de tratamento e os critérios de inclusão são estabelecidos previamente. No modo retrospectivo, o pesquisador analisa os prontuários de todos os pacientes com a afecção x tratados com a técnica y no período de tempo z, indicando os centros. A análise pode incluir uma nova avaliação clínica dos pacientes. 

Estudo epidemiológico descritivo (descriptive epidemiology study) :  Estudo observacional de uma determinada afecção (por exemplo, uma lesão) que ocorre num grupo de pessoas da população (por exemplo, adultos que jogam futebol). Analisa a distribuição ou extensão de um determinado problema de saúde naquela população.

Estudo transversal (cross-sectional study) :  Observação de uma população num determinado momento do tempo, ou num intervalo de tempo. Nesse intervalo, a exposição a certa intervenção (tratamento, diagnóstico ou mesmo interferência ambiental) e o desfecho clínico (sintoma, doença, síndrome, deformidade etc.) são determinadas simultaneamente. Por exemplo: quantas das pessoas que sofrem de retardo de cicatrização entre as internadas pós-cirurgia num determinado hospital são fumantes?

Estudo ” crossover ” ou cruzado (crossover study) :  Duas terapias experimentais são administradas uma após a outra, em ordem aleatória ou numa ordem especificada previamente, a um mesmo grupo de pacientes. Por exemplo: uma mesma população de pacientes operados recebe placebo por três dias e depois um analgésico específico por mais três dias ou o analgésico e depois o placebo.

Estudo de coorte (cohort study) : Dois grupos de pacientes são estudados: um que recebeu a exposição de interesse (por exemplo, um tratamento ou um procedimento diagnóstico) e o outro que não recebeu. Os dois grupos são acompanhados do início do estudo em diante (futuro) para que se possa avaliar um desfecho de interesse (por exemplo: se tiveram dor de cabeça ou não, se infartaram ou não, se deambularam), e em quanto tempo.

Estudo de caso-controle (case-control study) : O estudo identifica dois grupos de pacientes: um que apresenta o desfecho de interesse (casos) e outro sem o desfecho (controles), olhando retrospectivamente seus históricos para avaliar se apresentaram, no passado, a exposição de interesse. Por exemplo: entre pacientes que mancam (casos) e que andam normalmente (controles), quais tiveram fratura de membro inferior no passado?

Estudo clínico aleatório (“randomizado”) e controlado (randomized controlled clinical trial) :  Uma população de pacientes é distribuída aleatoriamente (“randomizado”)  em pelo menos dois grupos: um controle e um experimental (ou um controle e dois ou mais experimentais). O grupo experimental sofre uma intervenção, terapêutica ou diagnóstica, e todos os grupos são acompanhados e avaliados quanto a certas variáveis de interesse. Por exemplo: um grupo tomando um medicamento e outro tomando placebo para verificação da melhora dos sintomas. O desfecho clínico a ser observado é estabelecido previamente (por exemplo: mudança na pressão arterial, melhora dos sintomas, consolidação de fratura etc.), e a intervenção a ser estudada deve ter o poder de modificar algum desfecho clínico (mesmo se for uma intervenção diagnóstica, por exemplo: um rastreamento radiológico que encaminhou pacientes para cirurgia).

Revisão sistemática (systematic review) :  artigo de revisão de literatura, porém que examina o material já publicado de maneira sistemática: o assunto buscado e abordado é claramente descrito, e o método de procura das evidências na literatura é descrito detalhadamente, incluindo as palavras-chave usadas, as fontes que foram incluídas na pesquisa (e em que línguas) e quais os critérios de inclusão e exclusão dos artigos na revisão. Em outras palavras, é uma revisão de literatura com uma seção de “métodos” bem detalhada, que explica as “regras do jogo”.

Meta-análise ( meta-analysis ):  uma revisão sistemática que agrupa os resultados de dois ou mais estudos para obter uma resposta geral para uma questão de interesse. Resume quantitativamente as evidências quanto a tratamento, procedimentos (inclusive diagnósticos) ou associações, reunindo os dados quantitativos de todos os estudos num ” pool ” único.

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