Sobre edição de textos científicos
Dicas e discussões sobre a edição de textos da área científica

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No atendimento a nossos clientes, temos percebido que há  incoerências entre as instruções para autores das revistas e o que é efetivamente praticado nos seus sistemas eletrônicos de submissão. Isso ocorre porque as revistas contratam sistemas de submissão pré-formatados, e nem todas as funcionalidades podem ser adaptadas à realidade de cada revista.

 

Exemplos de incoerências são:

 

– as normas ou instruções para autores declaram que o resumo “deve ser estruturado” (o que significa que deve conter subtítulos como “introdução”, “métodos” etc.), mas a revista devolve o artigo solicitando um ou mais itens que não estavam descritos na norma (por exemplo, pedem para inserir ou para tirar “discussão”); ou devolve solicitando que o abstract seja disposto em parágrafo único (coisa que não está descrita na norma);

 

– a norma da revista pede que seja adicionada uma declaração de conflitos de interesse dos autores, mas não especifica onde. Após a submissão eletrônica, o artigo é devolvido com a solicitação que essa declaração, que foi inserida no final do texto, seja colocada na “cover letter” ou vice-versa, ou que a declaração seja inserida na página de título e não no final do artigo;

 

– a revista não oferece uma carta de modelo padrão, mas devolve o artigo dizendo que determinadas declarações têm que constar na “cover letter” usando determinadas palavras: o autor não pode redigir a sua carta dizendo as mesmas coisas de outra maneira. Com isso, precisamos editar a carta, copiando e colando as frases-padrão exigidas pela revista;

 

– a norma da revista pede que tabelas e figuras sejam dispostas em documentos separados, mas o sistema de submissão não prevê esse tipo de documento, obrigando-nos a submeter tudo, texto, tabelas e figuras, em conjunto; o que teoricamente seria descumprir as normas;

 

– a revista não deixa claro em suas normas mas exige, durante a submissão eletrônica, que sejam indicados revisores para o trabalho (referees), sendo que algumas não permitem a finalização da submissão sem nome, endereço e instituição de um número mínimo de revisores;

 

– as revistas falam em “número máximo de figuras e tabelas”, mas após a submissão, devolvem o artigo dizendo que o número máximo declarado nas normas era um total, considerando tabelas e figuras em conjunto. Assim, se o número máximo era, por exemplo de 5 “tabelas e figuras”, o autor é obrigado a submeter somente 3 tabelas e 2 figuras, e não 5 tabelas e 5 figuras como feito inicialmente.

 

 

Resolvemos esse tipo de problema rotineiramente, para que o envio dos artigos de nossos clientes não se atrase. Também enviamos comunicados aos editores a respeito das incoerências para que possam alterar, se não o sistema de submissão, pelo menos as normas, deixando-as mais claras. Conduzimos esse tipo de comunicação entre autor e editor para facilitar a vida de nossos clientes, e assim resolvemos pequenas pendências burocráticas que podem emperrar o processo de submissão, avaliação, aprovação e publicação. Tiramos essas pequenas pedras no meio do caminho.

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Nem sempre os clientes têm noção de todo o trabalho, competências e atribuições de um editor envolvido com textos da área científica. Muitas vezes, essas atribuições ficam escondidas, e os autores têm dificuldade de valorizar o trabalho.

Algumas das coisas que o editor faz:

– atua como um primeiro leitor ou, principalmente, um leitor não envolvido com o trabalho, o que lhe dá oportunidade de fazer uma revisão crítica e de enxergar problemas que as pessoas envolvidas nem sempre conseguem ver

– justamente por não estar envolvido com o trabalho, pode reorganizar as estruturas do texto de maneira mais lógica para o leitor, ajudando a manter o texto focado e a transmitir a mensagem principal mais diretamente

– identifica e remove (às vezes com ajuda do autor) ambiguidades do texto; verifica a consistência das mensagens ao longo dos vários blocos de texto

– melhora a clareza do texto, promovendo modificações na redação (edição do texto propriamente dita)

– seleciona o melhor estilo para cada caso, e cuida para que um padrão seja mantido ao longo do texto; elimina jargão

– assegura o cumprimento de normas

– corrige ortografia e gramática na língua que está sendo usada

– seleciona as figuras que podem ajudar na compreensão do texto, eliminando as desnecessárias; cuida para que elas estejam bem formatadas e que não haja problemas legais no seu uso

– ajuda a fazer com que o texto seja mais atraente para o publisher (a editora ou revista que vai publicar a peça)

– ajuda o autor a redigir melhor a sua mensagem

– ajuda a administrar projetos maiores de comunicação, que envolvem texto, imagens, vídeo etc., o que às vezes exige lidar com gráficas, transportadores e outros.

A Palavra Impressa não é uma empresa de tradução de papers. A Palavra Impressa é uma consultoria de edição de textos da área científica e relatórios técnicos da área social para diferentes públicos.

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Nossos clientes ficam decepcionados quando são proibidos ou desencorajados a divulgarem o resultado de suas pesquisas para a imprensa leiga, antes da publicação do artigo científico. Realmente, para quem trabalha para o bem comum, a maior divulgação possível de um novo conhecimento é o que se deseja. Não divulgar é decepcionante.

 

Porém o “embargo” que as editoras científicas impõem aos autores tem também sua razão de ser. É importante compreender por que ele existe.

 

O embargo é um período de tempo exigido pelas revistas (os “journals”) científicas entre a publicação do artigo científico e a divulgação pela imprensa leiga. Primeiro, os resultados da pesquisa têm que sair na forma de artigo científico completo. Depois (e o período varia de revista para revista), podem ser divulgados pela imprensa leiga para a população geral.

 

Por que existe o embargo?

 

Primeiro: se por um lado há editoras comprometidas com a divulgação da ciência, e que publicam os artigos de graça para todos, há outras que sobrevivem de assinaturas. Ao perderem a primazia para a imprensa geral, essas editoras perdem “clientes”, veem a imprensa leiga como suas “concorrentes”. Da mesma maneira como um jornalista vê outro jornalista, de outra revista ou jornal, como seu “concorrente” em busca do “furo” de jornalismo.

 

Segundo: o autor assina sempre um termo de transmissão de direito autoral (em inglês, “copyright transfer”, ou “direito de copiar”, direito de publicar) para a revista científica. Estaria, portanto, rompendo um acordo ao divulgar para o público leigo primeiro os resultados científicos que a revista científica revisou, aprovou e montou para publicação. Assim, romper o acordo pode resultar em sanções judiciais por parte da revista científica.

 

Terceiro: as grandes revistas científicas das grandes editoras têm departamentos de divulgação que cuidam de enviar aos jornalistas os resultados mais contundentes que estão sendo publicados. Em press-releases oficiais, elas enviam, alguns dias antes da publicação, uma explicação completa sobre o trabalho científico, dando tempo para que os jornalistas compreendam os dados e entrem em contato caso seja necessário. O JAMA, por exemplo, envia esses releases uma semana antes da publicação. Isso permite que não haja erros por parte dos jornalistas quanto à compreensão das descobertas científicas. Em troca dessa assistência, o jornalista tem de concordar em manter o “off” (ou seja, manter segredo) sobre a pesquisa até que a revista científica publique o “paper”. Quando um jornalista tenta “passar na frente”, dar um “furo de reportagem”, divulgando os resultados de um trabalho científico que ainda não foi publicado, corre o risco de escrever mal. Pela pressa, ao compreender mal um dado científico ou seu significado para a sociedade, o jornalista pode atropelar a ciência e se juntar ao time dos maus divulgadores. O tempo de embargo é útil para o estudo.

 

Quarto: O embargo também permite que os pares do pesquisador possam receber primeiro os resultados dos colegas, antes do público leigo. Assim, se um químico tem oportunidade de ler um manuscrito recém-publicado numa revista técnica-científica, pode depois dar uma entrevista aos jornalistas sobre os resultados do colega com maior conhecimento e segurança sobre o que foi feito. Se, por outro lado, um médico fica sabendo de um resultado importante em saúde pública pela imprensa, e não pela revista científica, não pode responder bem a seu paciente, que o enche de perguntas sobre aquele novo tratamento, o novo exame. Ele precisa de tempo para analisar melhor o material antes de ser chamado a se pronunciar.

 

O embargo não impede o pesquisador de falar sobre seus achados para seus pares, por exemplo, em congressos ou reuniões científicas fechadas para cientistas. Porém, deve sempre se lembrar que podem haver jornalistas leigos na platéia, tentando “pescar” novidades que nem sempre podem compreender bem. Partindo do princípio de que o artigo que ainda não foi publicado ainda não teve um completo processo de revisão por pares (peer-review), ainda não foi aprovado para publicação, isso pode ser perigoso. Antes da publicação oficial, qualquer resultado é preliminar.

 

O embargo não impede que o cientista avise autoridades a respeito de seus achados, antes da publicação (por exemplo, avisar sobre uma alta taxa de efeitos colaterais de um medicamento, que compromete sua segurança). Também não impede que o cientista amplie a divulgação de seu trabalho para um número grande de outros cientistas: para isso existem as revistas open-acess, que publicam o artigo completo de graça na internet, sem necessidade de assinatura prévia. Uma vez publicado o artigo científico na revista, o cientista pode divulgá-lo, enviando o link ou o pdf do artigo para colegas. (Ou mesmo para a imprensa, mas não antes da publicação).

 

Dar entrevista sobre o próprio trabalho, sobre as próprias impressões, opiniões e visão da ciência é direito de todo cientista, a qualquer tempo. Usar a imprensa leiga, aberta, para divulgar resultados (dados) de uma pesquisa específica que está sendo objeto de revisão ou já programada para ser publicada numa revista científica… é rompimento de acordo na maioria dos casos. É bom tomar cuidado.

 

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Quem submete um trabalho científico para publicação numa revista internacional e o recebe de volta com críticas como “revisar a linguagem”, “revisar quanto à gramática” ou “corrigir numerosos erros gramaticais” nem sempre imagina que, assim como na língua portuguesa há discussão sobre o uso correto de certas palavras e pontuações, também na língua inglesa nem tudo é “preto no branco”. Apesar de geralmente mais simples e prática do que a língua portuguesa, a inglesa também traz desafios para o revisor. Um exemplo clássico é a rotineira colocação de vírgula antes de “e”.

 

Em português, aprendemos na escola que, numa listagem, por exemplo, em que se usa “e” como conjunção aditiva (comprou bananas, laranjas e maçãs), não se usa a vírgula antes do “e”, ou seja, antes do último item relacionado. Nesta situação específica, porém, na língua inglesa, há enorme discussão a respeito. Esse tema de debate é chamado de “serial comma” e há argumentos contra e a favor da inserção da vírgula numa frase como “he bought bananas, oranges and apples/he bought bananas, oranges, and apples”.

 

Em português, defendemos que não é necessário o uso de vírgula antes de “etc.”, justamente porque “etc.” é a contração da expressão latina “et cetera” (e outros) e, por conter a partícula “e” como conjunção aditiva, não requer o uso da vírgula. Porém, em inglês, a discussão sobre a vírgula antes de “and” se estende para “etc.”, de maneira que é muito comum ver frases como “he bought bananas, oranges, apples, etc.”. Multiplique esse uso por algumas dezenas de ocorrências num artigo científico… E o resultado é uma possível crítica de um referee, não especialista em edição de texto, dizendo que o trabalho contém “muitos erros gramaticais”. É um risco.

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Publicação redundante ou em duplicata, de acordo com o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (ICMJE), é a veiculação de um artigo que se sobrepõe substancialmente a outro já publicado (em meio eletrônico ou impresso, não importa). O Comitê considera que os leitores de periódicos da área de saúde têm o direito de confiar que o que estão lendo é original, novo. Esse posicionamento está embasado em leis de direito autoral internacionais e em condutas éticas, principalmente. Há também que considerar o custo de se solicitar a revisão por pares e a edição trabalhosa de um manuscrito… que já foi publicado. Desperdício.

 

A maioria das revistas científicas declara em suas normas que não aceitará artigos que não sejam originais, ou seja, artigos que já tenham sido publicados ou submetidos a outros periódicos não serão aceitos. Ao acatar essa norma, o autor responsável se compromete a não publicar duas vezes o mesmo artigo em dois lugares. 

 

Uma vez flagrada a publicação dupla do mesmo estudo, o editor pode editar, à revelia do autor, uma nota de desagravo, com ou sem a explicação do autor, o que pode ser politicamente bem ruim para um autor que deseja continuar publicando. E, dependendo do caso, o autor pode até ser acionado judicialmente.

 

Temos deparado com esse problema na Palavra Impressa: autores querem publicar um mesmo artigo (os resultados de uma tese, por exemplo) em dois periódicos diferentes para cumprir exigências das faculdades onde fazem pós-graduação ou dos locais onde trabalham. Modificam um pouco o texto como se isso, somente, configurasse dois artigos diferentes. Porém, dois textos redigidos de maneira diferente, porém relatando os resultados do mesmo experimento científico, são considerados publicação redundante dos mesmos dados. Se são os mesmos pacientes, os mesmos métodos, a mesma análise, são o mesmo experimento. Se são pressionados a publicar dois em vez de um artigo, os autores devem realizar análises diferentes, usar outra coorte de pacientes ou realizar outro experimento. Tampouco traduzir o artigo para publicar em outra língua configura “dois artigos”.

 

Exceções aceitas pelas revistas:

 

– quando as revistas são previamente avisadas, e concordam em publicar em conjunto um mesmo artigo

 

– quando há interesse (às vezes, de saúde pública) de se publicar o artigo em outra língua ou para outra audiência, contanto que haja concordância dos dois editores: do que publicou primeiro e do que vai publicar depois, e com nota de rodapé indicando a publicação prévia

 

– quando um trabalho é publicado inicialmente em sua versão curta, por exemplo com acompanhamento curto dos pacientes, e depois o estudo é alongado, com a publicação da análise por mais tempo ou com mais pacientes, contanto que o trabalho inicial seja citado

 

– quando é submetido para publicação uma análise paralela ou menor de apenas um extrato dos dados do trabalho original, sendo que o outro trabalho, maior, é mencionado no texto.

 

Temos orientado nossos clientes para que prestem atenção ao problema das publicações redundantes, pois nem todos estão cientes das normas editoriais internacionais e do arrazoado ético a respeito.   

 

 

 

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Uma das maiores editoras de periódicos científicos do mundo, a Elsevier, decidiu lançar um concurso curioso: uma competição por ideias para melhorar o processo de revisão por pares. Os finalistas acabam de ser anunciados no website da editora (http://www.peerreviewfuture.com/) e, curiosamente, das oito ideias propostas, seis tinham a ver com propostas de reconhecimento público do trabalho voluntário dos referees. Postamos no website da Elsevier alguns comentários sobre elas.

 

Revisores (ou referees) são convocados pelos editores das revistas para avaliar artigos científicos submetidos para publicação. Eles têm de realizar uma cuidadosa revisão dos manuscritos, de acordo com as normas de cada revista, e redigir relatórios com críticas ponto a ponto. É um serviço que consome tempo e expertise, mas que é feito de graça. Por isso, frequentemente os editores têm problemas em conseguir que os relatórios sejam entregues no prazo. 

 

Reconhecimento é essencial em qualquer tipo de trabalho voluntário, e quanto se fala sobre um esforço especializado, como o peer-review, o reconhecimento deveria certamente tornar-se público de alguma maneira. Aparentemente, o que as editoras têm feito por seu exército de trabalhadores voluntários (meramente dispondo uma lista anual de nomes de revisores em suas revistas, na maioria) não tem sido suficiente, já que a maioria das propostas postadas para a Elsevier tinha a ver com sistemas de escores, pontuações e prêmios (como descontos em compras e serviços de estatística de graça) destinados aos melhores revisores.

 

Parte do trabalho dos referees é técnica, baseada em sua experiência e conhecimento adquiridos ao longo do tempo de dedicação à pesquisa. Outra parte é “braçal”: a leitura do artigo submetido, a conferência do cumprimento de normas ou preenchimento de formulários das revistas, a redação dos relatórios. Assim, parte do sistema de reconhecimento a ser proposto deveria ser baseado em quantidade: o número de artigos que um revisor é capaz de entregar adequadamente por ano, a rapidez com que faz isso tem de ser reconhecida. Porém a outra parte é qualitativa: como avaliar a capacidade que um revisor tem de perceber problemas metodológicos num artigo científico? Eis um desafio para os editores.

 

 

 

 

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Muitos artifícios podem ser usados para dar ênfase a determinadas palavras ou expressões nos textos: recursos gráficos, como itálico ou negrito, sublinhado, mudança de cor ou tamanho de letras. No entanto, temos observado que as pessoas têm usado com frequência a letra maiúscula no intuito de dar importância a certas palavras, esquecendo-se de que existem normas para o uso de maiúsculas e minúsculas em qualquer língua, inclusive a portuguesa, e que há maneiras mais adequadas (inclusive técnicas de redação) para enfatizar um conceito num texto.

 

Por exemplo: um sujeito, pesquisador de uma universidade qualquer, escreve um artigo sobre a importância da ética na pesquisa. Porque seu texto versa sobre ética (assunto de grande importância e problema central no texto), ele grafa ética com a letra maiúscula inicial em todas as ocorrências: “Ética”. Certo? Não. Ética, por si só, não é um nome próprio (a menos quando faz parte do nome de uma instituição oficialmente constituída, como por exemplo o “Comitê de Ética da Faculdade X”). Outro cliente nosso escreve sobre ligas de estudantes de medicina: as ligas em geral, sem que nenhuma específica seja determinada, vão grafadas em minúsculas. A Liga de Tuberculose de uma determinada faculdade, esta sim, vai com a letra inicial maiúscula, pois é um órgão específico e oficialmente constituído dentro de uma instituição. 

 

Relembrando a regra: nomes próprios vão em maiúsculas. O que é o nome próprio? É aquele que designa um único indivíduo de um conjunto, por exemplo, Pedro, Pará, Itália. Quando falamos de qualquer elemento (e não um específico, determinado), estamos nos referindo a um nome comum, por exemplo, menino, estado, país (qualquer menino, qualquer estado, qualquer país). Nomes comuns vão grafados com a letra inicial minúscula (a menos, claro, que estejam no início da frase ou linha). Nomes de instituições, escolas ou departamentos (Igreja Católica, Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, Prefeitura do Rio de Janeiro, Receita Federal, Disciplina de Informática Médica) designam organismos específicos, que não se confundem entre si e aos quais nos referimos especificamente. Assim como nomes de locais: Aeroporto de Congonhas. Portanto, são nomes próprios e vão com iniciais maiúsculas em todas as palavras componentes. 

 

Usamos letra maiúscula em nomes de períodos ou eventos históricos registrados (como Renascimento ou Segunda Guerra Mundial) ou datas comemoradas oficialmente (Natal, Ramadã) e, em algumas situações, conceitos políticos ou filosóficos ou ramos do conhecimento sistematizado (Arquitetura, Medicina, Direito, Justiça, Parlamento). Pode-se ainda usar maiúsculas nos nomes de documentos conhecidos e leis ou resoluções (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases).

 

Mas não se usa maiúscula em nomes de cargos: o reitor, o professor, o diretor, a prefeita. Embora muitos tentem dar ênfase aos assuntos de seus textos e aos cargos que ocupam usando maiúsculas, há recursos mais apropriados para isso… 

 

Sobre caixa-alta e caixa-baixa: ainda nos tempos das tipografias, os técnicos guardavam as letras maiúsculas na parte superior das caixas de tipos, e as minúsculas na parte inferior. Por isso, os revisores convencionaram chamar de caixa-alta as letras maiúsculas e caixa-baixa as minúsculas, uma tradição que perdurou mesmo quando a tipografia caiu em desuso. Isso possibilitou a criação de um recurso muito prático em revisão de texto: a expressão, bastante usada por redatores e revisores, “caixa-alta-e-baixa”, que indica que as palavras de uma expressão deve iniciar com letra maiúscula e ter as outras letras em minúsculas, assim:

 

dicionário de português: caixa-baixa

DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS: caixa alta

Dicionário de Português: caixa-alta-e-baixa.

 

 

 

 

Savioli, FP. Gramática em 44 lições. São Paulo: Editora Ática, 1988.

Cunha C, Cintra L. Nova gramática do português contemporâneo. Terceira edição revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

O Estado de S. Paulo. Manual de Redação e Estilo. Disponível em: http://www.estadao.com.br/manualredacao/esclareca/maiusculaseminusculas.shtm.

Houaiss A, Villar MS, Franco, FMM. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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Algum tempo atrás, para submeter um artigo para publicação nas revistas científicas, tudo o que o autor tinha que fazer era imprimir e mandar pelo correio ou, nas revistas mais “avançadas”, enviar por e-mail. Isso gerava um volume enorme de material que as revistas tinham que organizar para envio aos referees, editores de área, de volta aos autores, numa comunicação muito lenta e difícil, e que muitas vezes levava a perdas de documentos.

 

Nos últimos anos, todas as revistas científicas (com raríssimas exceções) passaram a aderir a sistemas eletrônicos de submissão, transferindo aos autores a responsabilidade por classificar e organizar previamente os artigos antes do envio para os referees. Isso melhorou muito a agilidade das revisões (que hoje tomam em torno de três meses) e o arquivamento de versões diferentes dos documentos. Porém, submeter um artigo para publicação em revista científica não é sempre um trabalho simples, e por isso, é um serviço que a Palavra Impressa presta a seus clientes rotineiramente.

 

Os sistemas eletrônicos das revistas exigem cadastro prévio de todos os autores do artigo, especialmente o autor correspondente. Só aqui leva-se em torno de 30 a 90 minutos, dependendo do grau de exigência da revista quanto aos detalhes pessoais, resposta a perguntas sobre conflitos de interesse, preenchimento de formulários etc. Esta parte do serviço exige que o operador conheça os autores do artigo que está submetendo, para não classificar, por exemplo, um estudante de graduação como doutor, por exemplo (ou vice-versa). Coisa que nem sempre um recepcionista de consultório tem condições de fazer.

 

Na medida em que se preenchem os formulários, senhas são geradas e mensagens são enviadas por e-mail para o operador para que confirme naquele momento a submissão e possa avançar para os passos seguintes. Isso exige atenção e dedicação total ao serviço, o que nem sempre é possível para nossos clientes, ocupados com suas atividades assistenciais e de pesquisa.

 

Depois de cadastrar os autores e até escolher possíveis referees para revisar o artigo, as revistas solicitam que se enviem todos os documentos do artigo (texto, imagens, tabelas) separadamente, e nos formatos eletrônicos específicos. Cada revista tem uma exigência diferente. Isso faz com que o operador conheça as peculiaridades dos diversos sistemas eletrônicos de submissão, que saiba como salvar documentos num ou noutro formato, que tenha capacidade para converter arquivos de um programa para outro e que, novamente, conheça o artigo que está submetendo para que possa encaixar as informações corretas nas caixas corretas. Tudo isso em inglês (exceto por algumas raras revistas brasileiras).

 

Por fim, as revistas estão, cada vez mais, facilitando o próprio trabalho de indexação dos artigos e de classificação dos manuscritos por especialidade para envio aos melhores referees automaticamente. Isso exige que o operador que está fazendo a submissão conheça o assunto do qual o artigo está tratando para que possa escolher as melhores palavras-chave que caracterizam o trabalho. Numa revista de grande circulação e impacto, isso pode representar mais de uma hora de trabalho, escolhendo de três a dez palavras-chave no mínimo numa lista predeterminada pela revista. Novamente, em inglês.

 

Assim, o serviço que prestamos aos nossos clientes de submissão dos seus artigos, que geralmente está acoplado ao serviço de edição do texto em si, é apreciado por poupar-lhes um tempo precioso. Além disso, nós controlamos internamente as comunicações que a revista faz com o autor após a submissão, recebendo cópias de todas as mensagens enviadas ao autor correspondente. Isso nos permite relembrar os clientes de que têm tarefas pendentes como o envio de mais documentos ou esclarecimentos ao editor. Assim, mantemos sob controle, centralizado, as diversas submissões que um mesmo autor tem para várias revistas, podendo inclusive cobrar respostas dos editores quando há demora. Nossos clientes podem ser avisados, de uma só vez, sobre o status de todos os seus artigos submetidos.

 

Se um artigo é recusado pela revista, ao recebermos o comunicado do editor, já fazemos uma avaliação inicial dos motivos da recusa e podemos orientar os autores sobre a melhor maneira de contra-argumentar sobre as críticas ou corrigir/alterar o texto para nova submissão. Mas este é assunto de outro tópico…

 

 

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Temos alertado frequentemente nossos clientes a respeito do uso da palavra “randomizado” nos artigos. Temos notado que muitos confundem a randomização para tratamento com a seleção para entrada no estudo.

É muito importante descrever corretamente o método de recrutamento dos sujeitos para uma pesquisa: onde e como foram selecionados para entrada no estudo? Na tentativa de mostrar que seus estudos são éticos, livres de viés, muitos autores simplesmente adicionam que a seleção foi “randomizada”. Porém nem sempre eles compreendem corretamente o significado disso.

Randomizar, em estudos clínicos, significa sortear, utilizando um método confiável para isso, seja a colocação dos prontuários em envelopes selados e numerados (opacos), seja a geração de números randômicos por computador, seja o velho e bom sorteio de números em recortes de papel. Seja qual for o método, randomizar significa sortear aleatoriamente, sem interferência humana. E esse sorteio de qual terapia será administrada é feito depois da inclusão do paciente no estudo: não tem a ver com o recrutamento inicial, com a inclusão do sujeito na pesquisa.

Ao recrutar todos os pacientes atendidos consecutivamente num dado período num serviço, garante-se que nenhum paciente que pudesse, pelo olhar do pesquisador, não ter bons resultados com o tratamento, fique fora do estudo. Ou seja, ao usar a fórmula “incluir todos os pacientes consecutivos”, elimina-se o viés de seleção do pesquisador no momento da entrada no estudo. Mas isso não é, de forma alguma, randomizar. Essa seleção inicial não foi aleatória, foi baseada em critérios pré-determinados de inclusão. “Randomização” não é uma palavra bonita que dê status ao artigo: é um método científico de alocação de pacientes num ou noutro grupo de tratamento. E que nem sempre precisa ser usado para que o trabalho tenha qualidade.

Em tempo: as melhores revistas científicas internacionais já estão exigindo que o método de randomização (ou seja, de determinação de qual tratamento o paciente vai receber) seja criteriosamente descrito. Não basta mais dizer que “foi randomizado”. É preciso explicar como foi randomizado.

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Talvez os clientes não se deem conta de uma importante característica de nosso trabalho: a supervisão da tradução. Escolher um bom tradutor, avaliar seu trabalho, testar e contratar são passos importantes na edição de um artigo científico originalmente redigido em português. Depois disso, muitas vezes enfrentamos certos problemas que os clientes nem sempre têm tempo ou disposição para resolver, como por exemplo a discussão, com editores dos journals e com tradutores, sobre termos e frases.

Já tivemos um mesmo texto revisado de maneira diferente por dois tradutores: o que um considera como “satisfatório”, outro profissional nos devolve com sugestões muito úteis de alteração das frases que tornam o texto mais claro, mais conciso, mais direto ou até mais simpático. Eu tenho ultimamente desconfiado dos tradutores/English reviewers que são muito “tolerantes”. Prefiro que eles mexam bastante nos textos, pois as suas interferências geralmente são úteis. E, quando eu julgo que não são, elimino-as individualmente. 

Isso significa examinar cada uma das alterações e correções feitas pelo tradutor, para aceitá-las ou questioná-las com o profissional. “Na frase tal você alterou isto, por que?” Raramente é necessário consultar o cliente nesses casos. Essa avaliação, essa leitura crítica, toma um tempo que muitas vezes o cliente não pode ou não quer dispender nisso. 

Essa supervisão é necessária, pois de vez em quando encontramos problemas com as traduções ou revisões de textos em inglês: e estamos falando de profissionais brasileiros e também de profissionais de empresas norte-americanas, britânicas etc. Já houve casos de proofreaders americanos que alteraram a grafia de termos técnicos em manuscrito sobre cirurgia, com isso modificando o instrumento cirúrgico que estava sendo usado. A alteração obviamente não foi autorizada. É importante que o tradutor não apenas esteja familiarizado com termos técnicos da área científica em geral, como, principalmente, acima de tudo, tenha respeito pelo original. 

Se alguns pecam pelo excesso, outros podem pecar pela falta: nós passamos a desconfiar de textos revisados por tradutores que contenham uma quantidade muito pequena de correções: se enviamos o texto para revisão é porque sabemos que ele pode ser melhorado. Que assim seja, então! O profissional deve, nesse caso, “colocar a mão”, alterar as frases para que fiquem mais claras, e ser vigilante e crítico. A timidez, neste caso, pode resultar em uma devolução, por parte da revista, com a queixa “poor English”. Poor author. 

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