Mais uma pílula “_on demand_”: o correto é escrever Zika, com o z maiúsculo? Ou minúsculo?
Lembrando a teoria: só nomes próprios devem levar letra maiúscula inicial. Nomes de doenças não deveriam ser grafados em maiúscula em português: hepatite, dengue, malária.
Mas Zika é um nome próprio? De onde vem o nome Zika?
A Organização Mundial de Saúde, em seus documentos oficiais na língua portuguesa, grafa *Zika*, com letra maiúscula.
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/
O mesmo faz o nosso *Ministério da Saúde*: *Zika*. Será que está correto?
A OMS e o MS fazem isso provavelmente pensando na floresta Zika, perto da capital da Uganda, onde o flavivírus que causa a doença foi isolado pela primeira vez no final da década de 1940, o *ZIKV*. [Artigo original, publicado em 1952: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12995440.] “Zika”, na língua local, quer dizer “_overgrown_”, ou “cheio”, “lotado” — trata-se, de fato, de uma área que tem rica biodiversidade, protegida, destinada a pesquisas em biologia.
Então, teoricamente, da mesma maneira que grafamos “doença de Chagas” (com C maiúsculo) ou “febre do Nilo”, deveríamos grafar “vírus da Zika” (significando “vírus da floresta que se chama Zika”). Com maiúsculas.
Só que é possível que, com o passar do tempo e com o uso corrente pela população, haja um “aportuguesamento” da palavra Zika (assim como “Sandwich” virou sanduíche” e “Braille” virou “braile”) e que “Zika” se torne “*zica*”, “*vírus da zica*”, “*doença zica*” (assim como aconteceu com a sigla AIDS, que virou a palavra aids em português). Em tempo: o aportuguesamento prevê o uso da letra c, no lugar da k.
Um bom sinal disso é que a Wikipedia já admite o uso com letras minúsculas, embora ainda com k. Além disso, a imprensa em geral também tende a escolher o nome com minúsculas: o jornal Zero Hora, a BBC, a Globo falam em zika. Outros representantes da imprensa leiga já vão além, como O Estado de Minas, O Povo, o Correio Braziliense, e grafam “*zica*”.
A Academia Brasileira de Letras ainda não “acordou” para o Zika, e ainda não lista essa palavra no VOLP, embora dicionários portugueses já registrem a zica, assim em minúsculas e com c.
O Centro Cochrane do Brasil optou por grafar zika, com k.
A língua é viva. O uso que fazemos dela ajuda na sua consolidação, e uma hora qualquer a nossa Academia vai (ter que) registrar “a zica”. Enquanto isso, em nossos documentos de disseminação para o público leigo, podemos colaborar, tornando as coisas menos complicadas, usando as minúsculas e o c.
Concordam? 😉
[Explicação bem fácil de entender vem dos portugueses: http://www.porticodalinguaportuguesa.pt/images/parecer/zica.pdf]