Severo: grave ou muito bravo?

Severo: grave ou muito bravo?

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Temos recebido cada vez mais textos para revisão em que os autores brasileiros adaptam a palavra “severe” em inglês para o português… inadequadamente. Em inglês, “severe” pode, sim, significar o aspecto grave de uma doença, “severe disease”, “severe pain” etc. Porém, o exame de vários dicionários da língua portuguesa, editados em várias épocas, mostra que a principal acepção da palavra “severo” ou “severa” é “rigoroso”: uma professora severa, um pai severo são pessoas que tratam as pessoas e as situações com rigor, com disciplina, com inflexibilidade, com exigência. Mesmo quando o dicionário emprega a palavra grave nesse verbete, o faz no sentido de sério, íntegro, e não no sentido da intensidade de uma doença: uma pessoa grave.

Doenças, dores, sintomas não são severos. São mais ou menos graves, intensos e perturbadores. Assim, doutores, é mais correto escrever “doença grave”, “dor intensa”, “diabetes avançada”… do que “afecção severa”. A doença não fica “brava” com ninguém. Deixem “severe” para os textos em inglês.


Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

Caudas Aulete. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editôra Delta S.A., 1964.

 

Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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