Publicação redundante: infração editorial e ética

Publicação redundante: infração editorial e ética

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Publicação redundante ou em duplicata, de acordo com o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (ICMJE), é a veiculação de um artigo que se sobrepõe substancialmente a outro já publicado (em meio eletrônico ou impresso, não importa). O Comitê considera que os leitores de periódicos da área de saúde têm o direito de confiar que o que estão lendo é original, novo. Esse posicionamento está embasado em leis de direito autoral internacionais e em condutas éticas, principalmente. Há também que considerar o custo de se solicitar a revisão por pares e a edição trabalhosa de um manuscrito… que já foi publicado. Desperdício.

 

A maioria das revistas científicas declara em suas normas que não aceitará artigos que não sejam originais, ou seja, artigos que já tenham sido publicados ou submetidos a outros periódicos não serão aceitos. Ao acatar essa norma, o autor responsável se compromete a não publicar duas vezes o mesmo artigo em dois lugares. 

 

Uma vez flagrada a publicação dupla do mesmo estudo, o editor pode editar, à revelia do autor, uma nota de desagravo, com ou sem a explicação do autor, o que pode ser politicamente bem ruim para um autor que deseja continuar publicando. E, dependendo do caso, o autor pode até ser acionado judicialmente.

 

Temos deparado com esse problema na Palavra Impressa: autores querem publicar um mesmo artigo (os resultados de uma tese, por exemplo) em dois periódicos diferentes para cumprir exigências das faculdades onde fazem pós-graduação ou dos locais onde trabalham. Modificam um pouco o texto como se isso, somente, configurasse dois artigos diferentes. Porém, dois textos redigidos de maneira diferente, porém relatando os resultados do mesmo experimento científico, são considerados publicação redundante dos mesmos dados. Se são os mesmos pacientes, os mesmos métodos, a mesma análise, são o mesmo experimento. Se são pressionados a publicar dois em vez de um artigo, os autores devem realizar análises diferentes, usar outra coorte de pacientes ou realizar outro experimento. Tampouco traduzir o artigo para publicar em outra língua configura “dois artigos”.

 

Exceções aceitas pelas revistas:

 

– quando as revistas são previamente avisadas, e concordam em publicar em conjunto um mesmo artigo

 

– quando há interesse (às vezes, de saúde pública) de se publicar o artigo em outra língua ou para outra audiência, contanto que haja concordância dos dois editores: do que publicou primeiro e do que vai publicar depois, e com nota de rodapé indicando a publicação prévia

 

– quando um trabalho é publicado inicialmente em sua versão curta, por exemplo com acompanhamento curto dos pacientes, e depois o estudo é alongado, com a publicação da análise por mais tempo ou com mais pacientes, contanto que o trabalho inicial seja citado

 

– quando é submetido para publicação uma análise paralela ou menor de apenas um extrato dos dados do trabalho original, sendo que o outro trabalho, maior, é mencionado no texto.

 

Temos orientado nossos clientes para que prestem atenção ao problema das publicações redundantes, pois nem todos estão cientes das normas editoriais internacionais e do arrazoado ético a respeito.   

 

 

 

Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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