O que é o fator de impacto de uma revista científica?

O que é o fator de impacto de uma revista científica?

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Neste segundo texto sobre a escolha das revistas científicas para onde devemos enviar nossos textos para publicação, vamos falar sobre o fator de impacto, um dos norteadores de nossa decisão. Depois do escopo do trabalho e da revista e da indexação e da classificação Qualis, podemos olhar para o fator de impacto como um critério a ser levado em consideração na escolha.

A visibilidade do artigo científico que desejamos publicar depende não apenas da qualidade do trabalho em si, mas também da visibilidade da revista. Não adianta enterrar um artigo excelente numa revista de menor abrangência ou que é menos lida. (Da mesma maneira como não se consegue colocar um artigo mediano ou fraco em termos de evidência científica numa revista de maior impacto).

O fator de impacto (FI) é a medida do número médio de citações, num dado ano, àqueles artigos de uma revista publicados nos dois anos precedentes.

 

FI 2007 da revista “X” =
 
citações, em 2009, em outras revistas, a
artigos publicados na revista “X”
em 2007 e 2008
 
 
número de textos “citáveis”
publicados na revista “X”
em 2007 e 2008

 

Ou seja, têm maior fator de impacto os periódicos cujos textos são mais citados por outros. Uma revista na qual cada artigo publicado seja, em média, citado uma vez tem FI = 1.

Ressalte-se aqui que não se trata de visualização ou leitura: não se está medindo quantas vezes um artigo foi lido com o fator de impacto, mas quantas vezes ele foi citado por outros cientistas em outros artigos. Por estar baseado em citação, e não em leitura, o fator de impacto é frequentemente usado como um proxy (uma medida indireta, um indicador) da importância da revista em seu campo ou de sua qualidade — embora isso já tenha sido criticado. Também não se fala em fator de impacto de um artigo: fator de impacto é uma medida que se aplica à revista como um todo, levando em conta a média de citações dos artigos publicados por ela em um ano. Assim, publicar em uma revista de elevado fator de impacto não é garantia de citação de um artigo.

Essa tão conhecida medida “fator de impacto” foi criada, há 50 anos, pelo Institute for Scientific Information (ISI), hoje pertencente à empresa Thomson Reuters. O cálculo é um “produto” dessa empresa. Apenas as revistas que têm indexação ISI (ou seja, que cumpriram as determinações para serem indexadas nessa base de dados) têm fator de impacto oficial calculado (e divulgado após três anos do início da indexação). Anualmente, a Thomson divulga o fator de impacto das revistas indexadas no ISI no Journal Citation Report (JCR): as instituições que têm acesso a essa base de dados podem consultar a listagem de fatores de impacto (o serviço não é gratuito). Algumas revistas publicam, em seus sites na internet, seus fatores de impacto calculado no ano precedente, como uma maneira de demonstrar seus bons resultados e atrair mais colaborações.

Embora largamente utilizado para diversos fins, o “fator de impacto” da Thomson Reuters não está livre de críticas. Além das puramente matemáticas, a principal argumentação contra o fator de impacto vem dos próprios editores de revistas científicas, que afirmam que ele não é uma medida objetiva de qualidade editorial:

– não está claro quais tipos de artigo entram na fórmula acima, ou seja, se editoriais, erratas, cartas ao editor não contam, mesmo se forem bastante citadas, então essas citações não “empurram” o fator de impacto da revista para cima ou para baixo. Por outro lado, artigos de revisão são sempre citados muitas vezes, e são levados em consideração na fórmula… portanto, publicar mais artigos de revisão, e menos pesquisa original, faz subir “artificialmente” o fator de impacto de uma revista.

– o fator de impacto demonstraria a popularidade, o prestígio da revista, mas não necessariamente a qualidade científica dos artigos publicados nela. Para que se pudesse inferir qualidade a partir do fator de impacto, ter-se-ia que partir do princípio de que apenas os melhores artigos são citados, o que não é verdade: quantas vezes não citamos artigos justamente como crítica à sua metodologia?

– por considerar apenas os dois anos precedentes, o fator de impacto não seria uma medida de popularidade da revista, mas uma medida da “rapidez de reação” à publicação de certos artigos. Se por qualquer motivo uma revista demorar a chegar às mãos daqueles que se interessam pelos artigos e os citam, o fator de impacto dela diminui, porque essas citações não entram na fórmula (por terem ido além da janela de tempo). De outro lado, artigos clássicos são citados por décadas a fio, o que deveria aumentar o fator de impacto da revista que os publicou… mas não aumenta.

– auto-citação: muitas das citações a artigos publicados em revistas de baixo fator de impacto são feitas por seus próprios autores. Neste caso, o fator de impacto não é influenciado pelo prestígio daquele pesquisador entre seus pares…

Embora o fator de impacto esteja sendo cada vez mais utilizado para medir a reputação dos cientistas — mais do que a reputação das revistas, como originalmente imaginado —, no nosso meio ainda prevalece a procura pelas revistas baseada primeiro no escopo e na indexação, em segundo lugar, na classificação Qualis, e apenas por último no fator de impacto. Isso porque, para o Pavilhão Fernandinho Simonsen, o fator de impacto, com perdão do trocadilho, não terá impacto na valorização dos docentes pesquisadores, enquanto a classificação Qualis, da Capes, é um marcador direto, atualmente, da produção científica interna. Precisamos publicar nas revistas Qualis A e B1 a B3.

Em tempo: além do ” impact factor ” calculado pela Thomson Reuters para as revistas indexadas no ISI, outros “fatores de impacto” vêm sendo criados e calculados, alguns dentro de outras bases de dados. Por exemplo, a base SciELO tem um cálculo de impacto interno. A Revista Brasileira de Ortopedia tem um fator de impacto-SciELO de 0,0309 em 2009, e a Acta Ortopedica Brasileira, de 0,0169. Breve teremos também o fator de impacto JCR da Acta, que acabou de conseguir sua indexação junto à base ISI.

 

Para ler mais:

Thomson Reuters. Science assays. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/. Acessado em 2009 (23 junho).

Thomson Reuters. The Thomson Reuters impact factor. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/impact_factor/. Acessado em 2009 (23 junho).

Thomson Reuters. Using the Thomson Reuters impact factor. Disponível em: http://thomsonreuters.com/products_services/science/free/essays/using_impact_factor/. Acessado em 2009 (23 junho).

European Association of Science Editors. EASE statement on inappropriate use of impact factors. Disponível em: http://www.ease.org.uk/artman2/uploads/1/

EASE_statement_IFs_final.pdf. Acessado em 2009 (23 junho).

SciELO. Impact factor in a two-year basis. Disponível em: http://statbiblio.scielo.br/stat_biblio/index.php?state=05&server_action=%2Fcgi-bin%2Fstat_biblio%2Fxml%2Fscielo1_2.sh〈=pt&YNG%5B%5D=2009&CITED%5B%5D=ACTA+ORTOPEDICA+BRASILEIRA. Acessado em 2009 (23 junho).

 

 

Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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