Diretrizes para redação de papers e ciência: mesma coisa?

Diretrizes para redação de papers e ciência: mesma coisa?

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Nossa experiência com redação de textos científicos permitiu acompanhar uma evolução intensa, especialmente nos últimos cinco anos, nas diretrizes para redação de textos científicos, no mundo e no Brasil. Melhorou, se organizou e se tornou mais sistemática a forma com que os pesquisadores precisam redigir os seus relatórios para serem aceitos pelas agências de fomento/financiamento, pelas revistas científicas internacionais, pelas editoras. Em outras palavras, tem sido necessário escrever melhor para prosseguir na carreira acadêmica e científica.

Porém, curiosamente, observamos também um certo vácuo entre a criação de novas exigências e o desenvolvimento de habilidades pelos pesquisadores. A Palavra Impressa tem atuado no auxílio de pesquisadores e grupos de pesquisa que realizam bons trabalhos científicos e que precisam publicá-los, mas encontram dificuldades com a língua, com o cumprimento de normas e com redação clara e concisa. Um serviço que acelera a publicação científica e acaba por aprimorar, pelos próprios autores, suas capacidades.

O problema é quando deparamos com trabalhos científicos que não têm qualidade. Redigir ou editar o manuscrito de uma pesquisa bem feita, bem fundamentada e com conclusões coerentes, que contribuem para o progresso da ciência, representa o nosso core business. Porém, muitas vezes ao longo do ano deparamos com trabalhos cujas conclusões não estão baseadas nos resultados (apenas na crença pessoal do investigador), artigos cujos resultados jamais poderiam ter sido alcançados com os métodos descritos (portanto há erros de apuração ou de descrição dos métodos) e, mais frequentemente, resultados e conclusões que não servem para nada, pois não trazem novas evidências científicas, novos fatos, apenas repetem pesquisas anteriores. 

Essas constatações nos mostram que há muitos pesquisadores ainda atuando, principalmente em programas de mestrado e doutorado, com orientação deficiente, sem um contato próximo com os departamentos de pesquisa e a cultura investigativa, e trabalhando por números (quantidade de trabalhos e publicações e não qualidade). Essa é uma deficiência de formação do cientista, principalmente o brasileiro, sobre a qual nada podemos fazer, pois na maioria das vezes atuamos na ponta final do processo, quando geralmente as pesquisas já foram concluídas, os dados já foram analisados. 

No entanto, sugerimos sempre aos nossos clientes que leiam atentamente as principais diretrizes (guidelines) de redação de manuscritos, que estão disponíveis para cada tipo de estudo (observacional, clínico, de revisão etc.), porque esse exame nos permite questionar se os métodos utilizados são adequados, se as perguntas que foram feitas estão claras e foram respondidas e de que maneira o relatório contribui com a ciência. Simplesmente fazer esses questionamentos ajuda a repensar o trabalho criticamente, e melhorar a sua qualidade. Não se trata somente de cumprir normas de revistas e instituições: trata-se de avaliar o próprio trabalho criticamente, cientificamente. A observação e o cumprimento dessas normas, temos certeza, contribuirá para a evolução de um raciocínio científico, que, espera-se, vai se tornar um hábito.

 

Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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