Supervisão de tradução

Supervisão de tradução

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Talvez os clientes não se deem conta de uma importante característica de nosso trabalho: a supervisão da tradução. Escolher um bom tradutor, avaliar seu trabalho, testar e contratar são passos importantes na edição de um artigo científico originalmente redigido em português. Depois disso, muitas vezes enfrentamos certos problemas que os clientes nem sempre têm tempo ou disposição para resolver, como por exemplo a discussão, com editores dos journals e com tradutores, sobre termos e frases.

Já tivemos um mesmo texto revisado de maneira diferente por dois tradutores: o que um considera como “satisfatório”, outro profissional nos devolve com sugestões muito úteis de alteração das frases que tornam o texto mais claro, mais conciso, mais direto ou até mais simpático. Eu tenho ultimamente desconfiado dos tradutores/English reviewers que são muito “tolerantes”. Prefiro que eles mexam bastante nos textos, pois as suas interferências geralmente são úteis. E, quando eu julgo que não são, elimino-as individualmente. 

Isso significa examinar cada uma das alterações e correções feitas pelo tradutor, para aceitá-las ou questioná-las com o profissional. “Na frase tal você alterou isto, por que?” Raramente é necessário consultar o cliente nesses casos. Essa avaliação, essa leitura crítica, toma um tempo que muitas vezes o cliente não pode ou não quer dispender nisso. 

Essa supervisão é necessária, pois de vez em quando encontramos problemas com as traduções ou revisões de textos em inglês: e estamos falando de profissionais brasileiros e também de profissionais de empresas norte-americanas, britânicas etc. Já houve casos de proofreaders americanos que alteraram a grafia de termos técnicos em manuscrito sobre cirurgia, com isso modificando o instrumento cirúrgico que estava sendo usado. A alteração obviamente não foi autorizada. É importante que o tradutor não apenas esteja familiarizado com termos técnicos da área científica em geral, como, principalmente, acima de tudo, tenha respeito pelo original. 

Se alguns pecam pelo excesso, outros podem pecar pela falta: nós passamos a desconfiar de textos revisados por tradutores que contenham uma quantidade muito pequena de correções: se enviamos o texto para revisão é porque sabemos que ele pode ser melhorado. Que assim seja, então! O profissional deve, nesse caso, “colocar a mão”, alterar as frases para que fiquem mais claras, e ser vigilante e crítico. A timidez, neste caso, pode resultar em uma devolução, por parte da revista, com a queixa “poor English”. Poor author. 

Patricia Logullo é doutora e meta-pesquisadora no Centre for Statistics in Medicine (CSM) na University of Oxford, Reino Unido e medical writer certificada pela International Society of Medical Publication Professionals (ISMPP). Além do Doutorado em Saúde Baseada em Evidências (pela UNIFESP), também é mestre em Ciências da Saúde (pela FMUSP) e Jornalista Científica (pela UNICAMP).

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